quarta-feira, 22 de abril de 2009

A volta do Grunge

Quando Vivienne Westwood levou o punk da rua para as passarelas, foi uma revolução na forma de pensar a moda, uma afronta à alta costura - o punk assim, não perdeu sua característica de anarquia e a proposta vingou. Quando Marc Jacobs colocou o grunge pela primeira vez nas passarelas através da marca Perry Ellis, foi aclamado por revistas e renomados editores de moda, mas acabou sendo demitido pela reação de consumidores que se recusavam a gastar US$1.200 por um vestido que parecia de segunda mão. De lá para cá muita coisa aconteceu, e quem diria, que novamente assistiríamos grifes conceituadas como a Diesel - retratando novamente o movimento Grunge em seus desfiles. O grunge (que quer dizer algo como sujo em inglês) é o nome dado pela mídia e adotado pelo público ao movimento musical originário de Seattle no fim dos anos 80. Sua principal referência é banda Nirvana e o vocalista Kurt Cobain - que ao suicidar-se por problemas com drogas e depressão tornou-se uma espécie de mártir do movimento. Com roupas muito largas e miseráveis, muitas vezes doadas, e camisa xadrez como a dos lenhadores; o Grunge trouxe um visual vintage desleixado de cabelos longos e desgrenhados, totalmente anti-moda acompanhado por uma atitude de sarcasmo, introspecção como reação a um desencantamento geral com o estado da sociedade. O grunge trouxe de volta a rebeldia, algo que sempre fez parte da juventude. Porém no mundo moderno os jovens reagiam propriamente; no mundo pós-moderno, adota-se o visual da revolução mas a atitude é de apatia. Mas a apatia pode ser também a reação mais corajosa pelo simples fato de não se perder em deslumbramentos. O fato é que hoje, frente a uma crise mundial que ironicamente desabrochou nos Estados Unidos e levando em consideração as previsões catastróficas quanto ao meio ambiente; voltar-se para a introspecção e contra o consumismo é uma reação bastante compreensível. No caso de Marc Jacobs, o Grunge foi a polêmica certa para o público errado. No caso da Diesel, e do jeanswear em geral, o desfecho é completamente diferente. Isso porque o jeans é um segmento à parte da moda: mesmo pertencendo à ela, consegue contestá-la sem cair na contradição. E ele está totalmente apto a lidar com este dilema com total coerência: produzir bens materiais que comuniquem desapego material. O Grunge no jeanswear consegue significar relaxamento, a busca por uma moda sincera, e um apego maior à universos particulares. A renúncia ao consumismo tão genuína do movimento grunge e que agora ressurge com força mostrando forte afinidade com o cenário que se apresenta nos leva a pensar em bens que atravessem gerações e que tragam o conforto para a introspecção atendendo à própria necessidade de rebeldia que sempre foi inerente à sociedade. Atravessar gerações, comunicar rebeldia; alguma semelhança com o jeans? O jeanswear, sempre foi porta voz da moda de rua; a moda real, do dia a dia: a moda que retrata o ritmo da sociedade com todas as suas nuances. Por isso mesmo, é ele o segmento da indústria da moda mais apto a receber essa linguagem e aceitar esse desafio, trazendo a polêmica certa ao público certo.

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